terça-feira, 12 de março de 2019

DO LIVRO AO PALCO: O PROCESSO CRIATIVO DO ESPETÁCULO INFANTIL ''A VILA DOS MACACOS''


No começo de 2017, durante uma oficina de contação de histórias ministrada por João Alves, um dos artistas da companhia, foi pedido um simples exercício: abrir um dos cinco livros empilhados numa página qualquer e contar a história que surgir.

Foto por Thayná Dourado
Foi assim que o Nóis na Mala teve seu primeiro contato com o conto de Italo Calvino, O Palácio dos Macacos, que estava dentro do livro Fábulas Italianas. O processo de criação da contação durou semanas e o resultado foi provocador, o conteúdo da história dialogava com os questionamentos trazidos pelos atores e atrizes no trabalho de grupo, então tomaram uma decisão: transformar a contação em peça.



O trajeto do processo de criação do espetáculo é fluído, tendo sua dramaturgia construída durante os ensaios e improvisos do grupo, o mesmo se faz sobre a trilha incidental que surge das propostas musicais em conjunto com as cenas.


‘’O processo de dramaturgia da Vila dos Macacos é um processo de forma e conteúdo, a forma de construção é refletida no discurso contido na peça. Viver junto com o outro em um processo teatral ou numa vila é pensar junto questões pertinentes aquela vivência.
As provocações dramatúrgicas vinham dos improvisos a partir de estímulos do diretor e dos atores e também das proposições literárias do dramaturgo, A Vila dos Macacos é coletiva, porque nosso processo criativo é coletivo e vice e versa.’’ diz João Alves, ator e dramaturgo do espetáculo.

A pesquisa é realizada ainda atualmente, os encontros são feitos na Panapaná Livraria Infantil em São Paulo, o processo tem muitas ramificações e o grupo segue um modo de trabalho coletivo, onde todos e todas pesquisam e estudam tudo que há dentro do espetáculo.

‘’Nossos encontros são muito inteiros, produtivos, divertidos e repletos de desejo de relação humana entre todos, o que acho não só importante, mas fundamental. Esse processo é um lugar para falarmos de vida, de mundo e com radicalidade e muita vontade de comunicação com o outro, então acho que isso é fazer arte (...) nosso teatro não trata mesmo de ilusão, mas da outra graça que é revelar a ilusão. Essa é uma graça que faz cócegas na inteligência, dá vontade de aprender.’’ relata o diretor, músico e ator deste espetáculo, Bruno Cordeiro.

A peça propõe uma conversa aberta ao público sobre maneiras de construir uma sociedade diferente, um outro mundo, para isso os artistas da Cia. apresentaram seminários e estudos sobre bioconstrução, sociedades alternativas, movimentos sociais e Projeto Vênus (desenvolvido por Jacque Fresco).

Foto por João Alves

‘’A caminhada artística está no trabalho de fazer a peça acontecer, qual a linguagem e o porquê dela, como conseguir dialogar com as crianças um tema que, à primeira vista, pode parecer não ser para crianças, mas há isso? Afinal, queremos falar de sociedade, estamos tentando vislumbrar uma em que não haja exploração, desigualdade, miséria, violência. E que criança não pensa isso de alguma forma?’’ relatou a atriz Jamile Rai sobre os desafios que a construção da peça apresenta, o foco principal é o diálogo sobre novas possibilidades e questionamentos sobre formas de viver estabelecidas no presente.



A Cia. realizou um ensaio aberto com as primeiras cenas no Galpão dos Lobos em agosto de 2018, trazendo olhares e perspectivas de fora do processo criativo, a dramaturgia foi concluída em janeiro de 2019 e o grupo segue os ensaios e pesquisas, que agora estão focadas em cenário e figurino, a previsão de estréia da peça é que ocorra ainda este ano, o grupo convida os leitores a acompanhar a página da Cia. no facebook e instagram para conhecer este e muitos outros processos artísticos.

Texto por Thayná Dourado