No começo de 2017, durante uma oficina de contação de histórias ministrada por João Alves, um dos artistas da companhia, foi pedido um simples exercício: abrir um dos cinco livros empilhados numa página qualquer e contar a história que surgir.
Foto por Thayná Dourado |
Foi assim que o Nóis na Mala teve seu primeiro contato com o conto de Italo Calvino, O Palácio dos Macacos, que estava dentro do livro Fábulas Italianas. O processo de criação da contação durou semanas e o resultado foi provocador, o conteúdo da história dialogava com os questionamentos trazidos pelos atores e atrizes no trabalho de grupo, então tomaram uma decisão: transformar a contação em peça.
O trajeto do processo de criação do espetáculo é fluído, tendo sua dramaturgia construída durante os ensaios e improvisos do grupo, o mesmo se faz sobre a trilha incidental que surge das propostas musicais em conjunto com as cenas.
‘’O processo de dramaturgia da Vila dos Macacos é um processo de forma e conteúdo, a forma de construção é refletida no discurso contido na peça. Viver junto com o outro em um processo teatral ou numa vila é pensar junto questões pertinentes aquela vivência.
As provocações dramatúrgicas vinham dos improvisos a partir de estímulos do diretor e dos atores e também das proposições literárias do dramaturgo, A Vila dos Macacos é coletiva, porque nosso processo criativo é coletivo e vice e versa.’’ diz João Alves, ator e dramaturgo do espetáculo.
A pesquisa é realizada ainda atualmente, os encontros são feitos na Panapaná Livraria Infantil em São Paulo, o processo tem muitas ramificações e o grupo segue um modo de trabalho coletivo, onde todos e todas pesquisam e estudam tudo que há dentro do espetáculo.
‘’Nossos encontros são muito inteiros, produtivos, divertidos e repletos de desejo de relação humana entre todos, o que acho não só importante, mas fundamental. Esse processo é um lugar para falarmos de vida, de mundo e com radicalidade e muita vontade de comunicação com o outro, então acho que isso é fazer arte (...) nosso teatro não trata mesmo de ilusão, mas da outra graça que é revelar a ilusão. Essa é uma graça que faz cócegas na inteligência, dá vontade de aprender.’’ relata o diretor, músico e ator deste espetáculo, Bruno Cordeiro.
A peça propõe uma conversa aberta ao público sobre maneiras de construir uma sociedade diferente, um outro mundo, para isso os artistas da Cia. apresentaram seminários e estudos sobre bioconstrução, sociedades alternativas, movimentos sociais e Projeto Vênus (desenvolvido por Jacque Fresco).
Foto por João Alves |
‘’A caminhada artística está no trabalho de fazer a peça acontecer, qual a linguagem e o porquê dela, como conseguir dialogar com as crianças um tema que, à primeira vista, pode parecer não ser para crianças, mas há isso? Afinal, queremos falar de sociedade, estamos tentando vislumbrar uma em que não haja exploração, desigualdade, miséria, violência. E que criança não pensa isso de alguma forma?’’ relatou a atriz Jamile Rai sobre os desafios que a construção da peça apresenta, o foco principal é o diálogo sobre novas possibilidades e questionamentos sobre formas de viver estabelecidas no presente.
A Cia. realizou um ensaio aberto com as primeiras cenas no Galpão dos Lobos em agosto de 2018, trazendo olhares e perspectivas de fora do processo criativo, a dramaturgia foi concluída em janeiro de 2019 e o grupo segue os ensaios e pesquisas, que agora estão focadas em cenário e figurino, a previsão de estréia da peça é que ocorra ainda este ano, o grupo convida os leitores a acompanhar a página da Cia. no facebook e instagram para conhecer este e muitos outros processos artísticos.