sábado, 23 de fevereiro de 2013

Breve História da Música Ocidental Ilustrada






Vídeo curto e interessante! Resume trechos importantes da história da música de maneira divertida, fazendo um panorama ilustrado e acompanhado por músicas de cada período. Apesar de não ter tradução é muito fácil compreender por estar em espanhol, mas principalmente por conta das músicas presentes. É impossível dar conta da história mundial da música e o vídeo acaba por dar mais atenção à produção erudita e européia, mas educador perspicaz saberá usar essa ferramenta como um estímulo à pesquisa e podendo mesmo discutir a partir disso temas como os que se apresentam no próprio vídeo e ainda: música popular e erudita, diversidade musical (música clássica, música popular, ritmos africanos, latinos, música oriental, etc.), expansão do repertório musical de cada um e muito mais.
Excelente alternativa para a sala do professor bem como para os pais incentivarem a diversidade da cultura musical de seus filhos!




domingo, 17 de fevereiro de 2013

Ovos ensinando sobre a diversidade humana!



Tradução:

1º - "Ensinando a diversidade"
2º - "Nós somos iguais por dentro"


Excelente ideia para dar um exemplo concreto para crianças e fácil de fazer em sala de aula. Basta levar dois ovos (de repente na própria escola se consegue!), um claro e um escuro. A partir daí se pode instaurar uma rica discussão sobre preconceitos étnicos e ainda aliar à atividade um material complementar como Conto ou obra de arte visual na mesma temática.
Seria possível também contar uma história usando os ovos como "fantoches" e finalizar quebrando eles para revelar o interior.





terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O CARNAVAL DOS CORDÕES


 Plínio Marcos

Desfile no Vale do Anhangabau - 1969.


A tradição canavalesca de São Paulo era o cordão. Havia algumas escolas de samba, porém (e sempre tem um porém), os bambas, a pesada eram os cordões. Camisa Verde e Branco (branço mesmo), Vai-Vai, Paulistano da Glória, Campos Elíseos, Som de Cristal eram todos famosos cordões. E o cordão paulista tinha batida diferente das escolas de samba, tinha outras figuras e outras mumunhas. Eu disse "tinha". Porque, que eu saiba, não existe mais nenhum cordão em São Paulo. Os que não acabaram de vez se transformaram em escolas de samba. Como é o caso do Vai-Vai e do Camisa Verde e Branco, que foram os que mais resistiram, antes de se transformarem em escolas de samba. E o fim dos cordões, sem dúvida nenhuma, se deve ao elitismo, ao paternismo das autoridades que, quando resolvem incrementar algumas manifestações espontaneas do povo, mesmo quando estão bem intencionadas, só atrapalham. Isso porque as autoridades, sempre tão distantes das bases, tomam suas medidas dentro dos gabinetes, escutando acessores que geralmente se preocupam com o brilhareco que resulte em algum lucro e nunca nos interesses da coletividade.

No caso do samba de São Paulo, não deu outra coisa. O Prefeito Faria Lima resolveu, com a melhor das intenções, oficializar o Carnaval de São Paulo. Mas deve ter consultado gente que sempre achou que nesta cidade não havia samba, nem sambistas. E essa gente, sem vacilar, desconhecendo totalmente o que é Carnaval, desconhecendo que carnaval não se resume apenas em desfiles, nem em escolas de samba, que desfile e escolas de samba são um aspecto do carnaval, que existem vários outros aspéctos que também devem ser considerados, essa gente estava interessada na cascata que podia fazer em torno da oficialização do Carnaval e não na preservação dos costumes carnavalescos do povo desta cidade. E então, sem nenhuma cerimônia, fizeram a presepada: oficializaram o Carnaval. Mas, na lei, ficou claro que o único evento carnavalesco que a Prefeitura se via obrigada a realizar era o desfile das escolas de samba. Resultado, todo incentivo da Prefeitura para as escolas de samba e nenhum para os cordões que, diante da indiferença das autoridades, foram se extinguindo ou virando escolas de samba, puxadas aos defeitos das escolas do Rio de Janeiro (é mais fácil copiar defeito que virtude) e se desvinculando totalmente das raízes culturais de São Paulo.
O samba paulista é diferente do samba baiano que se instalou no Rio de Janeiro a partir da casa das "tias". O samba paulista é mais puxado ao batuque, ao samba de trabalho. Do toco, durão. O samba paulista vem das fazendas de café. O crioulo vindo do interior ia se instalando perto dos locais de trabalho: Jardim da Luz, Barra Funda, Largo da Banana, Praça Marechal, Alameda Glete, Bexiga, Rua Direita, Praça da Sé. E aqui, como no Rio de Janeiro, a polícia perseguia o samba e os sambistas. No Rio de Janeiro, os pagodeiros subiam o morro e a polícia se acanhava, e aí, não havia remandiola. O samba era solto, batido na mão, espalhado pelo terreiro. Aqui, o sambista se recolhia nos porões e lá puxava o samba, mas, naturalmente, não era a mesma coisa. Um samba espalhado debaixo de um céu cheio de estrelas e de luar e um samba espremido em porões, nos quais crioulo de mais de um metro e setenta tinha que mostrar o que sabia todo dobrado, pra não bater com a testa nas vigas. E quando o pagode esquentava, era tanta poeira que subia, que só era possível saber que estava havendo samba pelo ronco da cuíca e pelo gemido do cavaquinho, porque ver, não se via ninguém.
São muitos os grandes sambistas de São Paulo: Vassourinha (Olha aí, carnavalescos de escolas de samba, que andam com mania de enredo com vida de artista: esse foi gente grande e de muita embaixada no rádio), Dionísio Camisa Verde, Marmelada, Jamburá, Feijó, Pato Nágua, Sinval, Inocêncio Mulata, Carlão do Peruche, Nenê da Vila Matilde, Pé Rachado, Zézinho do Morro da Casa Verde, Geraldão da Barra Funda, Chiclete, Zeca da Casa Verde, Toniquinho, Nego Braço, Zoinho, Dona Eunice, Sinhá, Donata, Tudo gente que mantinha o samba na rua na época em que a polícia acabava samba na base do chanfralho. Tudo gente de valor provado no meio das batalhas. Tudo gente que saía nos cordões pelo prazer de sair, por gostar de samba, por querer sambar. No centro da cidade, muitas vezes, um cordão que ía encontrava um cordão que vinha. Então, era coisa pra valente. Ninguém recuava. Os cordões se cruzavam. Tinha um ritual todo cheio de parangolé. O baliza de pau de um cordão protegia a porta-estandarte do outro cordão. Os estandartes (ou bandeiras) eram trocados com muita gentileza e muito respeito. Depois de um tempo, se destrocavam os estandartes (ou bandeiras) e aí o pau comia. Navalha, tamanco, porrete entravam na fita pra bagunçar o pagode.

Pato Nágua, apitador de samba da VAI-VAI.
Pato Nágua foi levar uma cabrochinha lá pras bandas de Suzano. Amanheceu boiando numa lagoa, comido de peixe e de bala. Dizem que foi a primeira vítima do Esquadrão da Morte. Ninguém sabe direito. Defunto não fala. O que se sabe é que a notícia chegou no Bexiga à tardinha, na hora da Ave-Maria, e logo correu pelos estreitos, escamosos e esquisitos caminhos do roçado do bom Deus. E por todas as quebradas do mundaréu, desde onde o vento encosta o lixo e as pragas botam os ovos, o povão chorou a morte do sambista Pato Nágua. E o Geraldão da Barra Funda, legítimo poeta do povo, chorou por todos num bonito samba chamado Silêncio no Bexiga.
O Largo da Banana era o lugar onde os caminhões que vinham do interior encostavam pra descarregar. Ali se juntava a curriola. Enquanto não vinha caminhão se armava o samba duro. Se jogava a tiririca:

É tumba, moleque, é tumba
é tumba pra derrubar
tiririca, faca de ponta
capoeira vai te pegar
Dona Rita do Tabuleiro
quem derrubou meu companheiro
Abre a roda, minha gente
que comigo é diferente

E só parava na roda quem se garantia. E o Inocêncio Mulata (hoje presidente do Camisa Verde e Branco da Barra Funda) sabia tudo. Tudo e mais alguma coisa. E no Carnaval, puxava no surdão um famoso trio de couro. Ele no surdão, o Feijó na caixa de guerra e o Zoinha no tamborim. Paravam num boteco qualquer e começavam a zoar. Ia juntando gente, juntando gente e aí o rio saía pela Barra Funda, com uns duzentos sambando atrás. Na Praça Marechal, já eram dois mil, na Glete, cinco mil. Aí, era zorra, zorra total, até a polícia chegar. Foi nesse trio de couro que o Inocêncio ganhou o apelido de Mulata. Logo ele, que não é de fazer careta pra cego, resolveu aprontar pro Feijó, que não podia ver rabo de saia. O Inocêncio pegou um vestido da Dona Sinhá, meteu um turbante, se embonecou e ficou na moita. O Feijó e o Zoinha, que estavam no boteco esperando o companheiro de trio, foram tomando todas. Quando já estavam bem bebuns, e achando que o Inocêncio não viria mais, ele se apresentou vestido de mulher. Fez sucesso pro Feijó, que achou aquilo uma tremenda mulata e foi logo pagando cerveja. Mais encantado ainda ficou o Feijó quando aquela mulata pegou no surdo e mandou ver. O trio saiu. O Feijó todo preocupado com a mulata e alimentando ela com cerveja até a Glete. Aí, o Feijó resolveu partir com tudo. Se entortou. O Inocêncio tirou o turbante e se apresentou. O patuá do Feijó entortou. Mas o Inocêncio ganhou pra sempre o apelido de Mulata.
 Desfile na Avenida Prestes Maia em 1969.
Mas a guerra se avacalhou. Não existe mais trio de couro, nem bloco de sujo, nem vai-quem-quer. Essas manifestações espontâneas do povo, que sempre a polícia tentou acabar sem conseguir, acabaram graças às promoções carnavalescas da Prefeitura. No lugar dessas coisas todas, a Prefeitura meteu o Trio Elétrico. A própria poluição sonora, que com guitarras elétricas e grandes aparelhos de som, esmagam, apagam qualquer instrumento de couro batido por um sambista. Alguns músicos defendem essa jeringonça como mercado de trabalho, mas esquecem que um toca-fitas e uma Kombi fazem o mesmo efeito que esse trio elétrico. E esquecem que falta mercado de trabalho porque muitos bailes de Carnaval em São Paulo são animados por toca-fitas e que a própria Prefeitura promove um bailão pra quarenta mil pessoas, com toca-fitas.
São Paulo sempre teve muito carnaval. Mas hoje está tudo resumido no desfile das escolas de samba e nos bailes dos clubes. E isso tudo é muito triste. Porque o Carnaval sempre serviu pras manifestações espontâneas do povo. E tudo agora vai se resumindo num espetáculo pra atrair turista. Feito no gosto dos turistas e avaliado pelos padrões culturais das elites. E isso dói. Porque um povo que não ama e não preserva suas formas de expressão mais autênticas jamais será um povo livre. 


(Publicado na Folha de S.Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 1977)

domingo, 10 de fevereiro de 2013

AGORA É NÓIS!

A Cia de Teatro Dois na Mala cresceu e agora é Nóis! 


Agora somos: Bruno Cordeiro, Danilo Minharro, Francisco Wagner, Heidi Monezzi, João Alves, Priscila Schimidt e Ravi Landim como artistas-criadores e pesquisadores. Aquela que antes era Dois na Mala (ou Dois Mala) agora é CIA DE TEATRO NÓIS NA MALA. Crescemos e nos transformamos, ainda que algumas coisas boas continuem sendo as mesmas de sempre: nosso trabalho gráfico continua sendo feito pelo sempre querido Gabriel Marcondes, nossa pesquisa continua investigando o universo da nossa Cultura popular Brasileira, busca por novos olhares   acerca da criança em compasso com a arte que é produzida para ela e a constante pesquisa para fomentar o conhecimento e a criação.

Para selar a mudança de nome do grupo escolhemos um dia muito especial, 24 de novembro de 2012. Nesse dia apresentamos Uma Jornada de João e Maria na Mostra Fomento ao Teatro 10 anos no CDM Patriarca, Espaço ocupado por dois grupos muito porretas e muito queridos, o Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes e o Grupo Teatral Parlendas. Abaixo segue o vídeo da apresentação, presente do companheiro Paulo que esteve lá especialmente para registrar a apresentação e que depois fez o regalo de editar e nos dar uma cópia

.

Com a estreia do novo blog com o nome novo não desativaremos o antigo. Ele continuará como registro do início da nossa história e poderá ser acessado sempre que der uma saudade ou uma curiosidade de ver como era antes: http://doisnamala.blogspot.com.br/

Esse é só o início desta jornada que começou em 10 de abril de 2010. Várias coisas irão acontecer e contamos com todos vocês sentados na nossa plateia das mais variadas formas: seja indo às apresentações do Uma Jornada de João e Maria ou das contações, seja acompanhando pelas atualizações do blog e outras divulgações ou ainda através da nossa batalha facebookiana de divulgação. Como trabalhamos com a  Cultura Popular não podemos deixar vocês simplesmente sentados na plateia, convidamos todos para participar com a gente comentando, dando sugestões e divulgando.

Um grande abraço da Cia de Teatro Nóis na Mala e até breve.

AGORA É NÓIS!




sábado, 9 de fevereiro de 2013

Brincadeiras na Mala!

QUE BRINCADEIRA É ESSA, POSSO SABER?

  Este é um espaço de compartilhamento de brincadeiras selecionadas buscando unir diversão a aprendizados e comportamento ético. É possível propor ás crianças, tanto na sala de aula como em casa, brincadeiras tradicionais que privilegiem o contato social saudável, ao invés de recorrer somente à jogos e diversões sedentárias. É claro que é divertido também jogar videogame ou acessar a internet (não fosse ela não estariam aqui!), mas o tempo pode ser dividido em atividades diversas e que estimulem mais a mente. Hoje é comum os pais compartilharem hábitos com os filhos, como assistir um DVD juntos, isso é maravilhoso! Mas não podemos nos esquecer que as crianças e jovens precisam mais ainda de estímulos e desafios físicos e mentais pois estão em pleno desenvolvimento. 
Enviem-nos sugestões!




Mãe da rua

Dividem-se em dois grupos, cada um formando uma "Calçada", um de frente pro outro deixando o espaço da "Rua" entre eles. No centro (Rua) fica uma criança sorteada para ser a "Mãe da Rua". Todos da calçada tem que atravessar para a outra calçada e a mãe da Rua tem que tentar pegar alguém. Quando pego torna-se pegador. Importante: uma vez que o jogador sai da área da calçada ele não pode voltar para a sua, estando disponível para ser pego!




Estourar bexigas d'água

Típica brincadeira de verão, simples e divertida! Compre bexigas e encha com àgua ao invés de ar, escolha um local e roupas que possam molhar e pronto. Agora é só lançar sua bexiga em qualquer coisa que você e queira encharcar! Mas cuidado com o exagero, senão é desperdício...




Coelhinho sai da toca
Em roda, cada criança representa um coelhinho e uma fica no centro. Cada coelhinho da roda tem uma toca, que pode ser feita com uma marca no chão ou com duas crianças dando as mãos, se for um grupo grande... Alguém é escolhido para dizer: Coelhinho sai da toca! Então todos correm para o centro e tem que encontrar uma nova toca, restando sempre um no meio.









sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Diego não conhecia o mar.


Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovakloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: - Pai, me ensina a olhar!

(FONTE: GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Porto Alegre: LP&M)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Um excelente negócio

PATROCÍNIO/ Nas últimas décadas, a arte tem perdido o jogo como bem público

Daniela Castro*

Cartaz da peça "Cielo Arte" do grupo catalão La Fura dels Baus patrocinado pela empresa Cielo.





A arte joga com o inegociável da vida social. Ela desestabiliza o estabelecido, fricciona, negocia, destrói, revela, ilustra, dialoga com a matriz ideológica que sustenta certa hegemonia de valores. A instituição cultural que abriga tais práticas veicula essa produção de saberes não hegemônicos, expõe aquilo que há nas entrelinhas desses discursos, e assim nos instiga a imaginar outra sociedade, um lugar melhor. Ou seja, a arte é fundamentalmente de cunho social e político.

Não se trata aqui de reduzir o papel da arte, mesmo que assim o pareça na tentativa de defini-la em um parágrafo. Trata-se de dizer que nos últimos anos ela tem perdido o jogo como um “bem público” da vida social para se tornar um “ótimo negócio” dos interesses privados.


Há aqueles que se regozijam com a explosão do mercado de arte e o lugar que ocupa nele a arte brasileira. Novas galerias surgem em São Paulo a cada semana, o mundo conta com mais de 300 bienais, e as inúmeras feiras celebram o interesse crescente pela arte, a julgar pela alta visitação e o alto volume de vendas. No Brasil, centros culturais privados geridos com dinheiro público obtido por incentivos fiscais exibem seus nomes fantasia nas fachadas de prédios imponentes em endereços nobres com orgulho filantrópico.

Precisamos retroceder alguns séculos para entender como tudo isso começou. Desde o primeiro momento em que artistas começaram a viver de sua produção, alguma forma de mercado de arte negociava transações entre indivíduos que detinham poder e outros que detinham talento artístico. O primeiro crítico do mercado da arte, Gerald Reitlinger, atestou em seu clássico “The Economy of Taste” (1961) que o mundo não poderia oferecer enormes quantias de dinheiro à arte até que o mundo obtivesse enormes quantias de dinheiro. Isto é, após a industrialização e financeirização do capitalismo.

Obra de 100 milhões de
dólares de Damien Hirst
Quando pinturas históricas e cubistas figuraram juntas nas primeiras IPOs do século XX (do inglês, initial public offering; evento que marca a primeira venda de ações de uma empresa no mercado), atingiram um valor astronômico, pois, subitamente, as pessoas passaram a ver as pinturas não somente como representação de valores históricos, mas de valores futuros. As obras de arte passaram a ser avaliadas não mais como unidades especulativas de medida de valor. Neste século, a caveira de diamantes de Damien Hirst, com custo de produção de 23,6 milhões de dólares, foi arrematada por 100 milhões, o maior valor atribuído a uma obra de artista vivo.

Foi a partir dos anos 1980 que, em resposta à crise de estagflação mundial, o capitalismo dirigido pelas finanças disseminou a sua lógica inexorável do mercado caracterizado pela ausência de regulamentação e voltado para a maximização do valor aos acionistas por todos os cantos do planeta. E a velha novidade é que os executivos do capitalismo financeiro que patrocinam as artes e ocupam assentos em conselhos administrativos de museus são os mesmos acionistas voltados para a maximização do valor a qualquer custo por todos os cantos do planeta.


O caráter filantrópico associado ao patrocínio empresarial à cultura como “bem público” mascara outro tipo de maximização do valor: o do capital simbólico. Tal como os antigos empreendedores, as elites corporativas lutam para consolidar sua posição e seu status dominantes por meio de uma intrincada rede de relações econômicas e sociais. Engajar as companhias no comando das artes e atividades culturais é parte dessa estratégia.


Em outras palavras, qualquer tipo de patrocínio corporativo à arte e cultura, seja por meio de doações, seja principalmente por incentivos fiscais, gera lucro. Portanto, não há mera coincidência entre a bilionária ascensão do mercado de arte contemporânea e a desregulamentação do capital financeiro. Pautado por uma economia desterritorializada de especulação do capital, o neoliberalismo encontrou na obra de arte, como mercadoria de especulação sobre valores futuros, sua alma gêmea. Aquilo que se convencionou chamar de “Economia Criativa”, a partir dos anos 2000, foi a bem-sucedida união em comunhão de bens da economia neoliberal com a arte. Uma expressão que designa deliberadamente a privatização da cultura.

Os riscos que esse cenário nos traz já são sentidos. Em primeiro lugar, estamos diante de uma situação em que o antigo modelo de comércio varejista das galerias tem sido substituído por amalgamações globais de larga escala, como a Hauser & Wirth & Zwirner e a Gagosian. A formação de conglomerados no mercado e instituições artísticas (Guggenheim) aponta para a ideia de que a arte está cada vez mais enredada nas tentativas de reassegurar o poder monopolista, berço do capitalismo da propriedade privada, cuja geração de riqueza depende de alegações de singularidade e autenticidade distintivas e irreplicáveis.

Essa afirmação nos coloca um problema grave, pois o discurso gerado pela produção de conhecimento acadêmico e intelectual no campo da arte corre o risco de ser instrumentalizado como commodities do consumo de trabalhos artísticos diante da ascensão da competição e globalização no negócio da arte. Em segundo lugar, a própria criação artística - tradicionalmente vinculada à interiorização, ao tempo lento e à autonomia de pensamento - se vê obrigada a adaptar-se ao ritmo da demanda do mercado.

Isso força um esvaziamento crítico de sua produção, a aprisiona a clichês do vocabulário de experiências pessoais comercialmente conformistas e resulta em um enfraquecimento nas relações formais e de conteúdo. O brasileiro Vik Muniz tornou-se mundialmente famoso por suas releituras icônicas da história da arte feitas com macarrão e chocolate. E as expressões da pobreza e do abandono do Estado das classes baixas urbanas, uma vez retratadas pela dupla Os Gêmeos, agora figuram em lenços da nova coleção da Louis Vuitton.
Releitura da imagem de Che Guevara
por Vik Muniz usando café.
Soma-se a tudo isso a politicagem grotesca que ainda estrutura os mecanismos administrativos da cultura no Brasil. Salvo duas ou três instituições, a nomeação por interesse político-partidários de diretores de instituições peca na avaliação profissional desses indivíduos, que ora usam uma instituição pública em benefício próprio, ora armam-na com interesses privados. O Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, por exemplo, exibiu em 2012 os trabalhos de grafiteiros sob o título Keep Walking Brazil, patrocinados pela Johnnie Walker. A tela com o “maior valor artístico” figuraria na capa do próximo CD de remix de sucessos da Madonna...

Se a produção da arte, como jogo com o inegociável da vida social e desestabilizador de discursos hegemônicos, passa a ser instrumentalizada para a manutenção do poder e status da elite capitalista privada, então estamos diante de um “direcionamento privatizado” das dimensões de fruição e de possibilidade de um real posicionamento crítico perante o mundo.

* Daniela Castro é formada em História da Arte e Estudo da Cultura Visual pela Universidade de Toronto, Canadá. Atua como escritora e curadora independente.


(FONTE: Revista Carta Capital, 6 de fevereiro de 2013, Ano XVIII, nº734, p. 48 -49)